sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Mente, Memória e Arquétipo: Ressonância Mórfica e o Incosciente Coletivo

Outubro 12, 2008
Por: Rupert Sheldrake (Psycological Perspectives, 1997)
Tradução: Sulivan Hübner




Mais um interessante ensaio de Rupert Sheldrake sobre a teoria dos campos morfogenéticos




Rupert Sheldrake é um Biólogo teórico cujo livro, “Uma Nova Ciência da Vida: a hipótese da causação formativa (Tarcher, 1981)”, evocou uma tempestade de controvérsias. A revista Nature o descreveu como “o mais forte candidato à fogueira”, enquanto que a revista New Scietist chamou de “uma importante investigação científica a respeito da natureza da realidade biológica e física”. Devido ao fato do seu trabalho conter implicações importantes para os conceitos junguianos a respeito dos arquétipos e do inconsciente coletivo, nós convidamos Sheldrake para apresentar a sua visão em uma série de quatro ensaios que aparecerão nos assuntos sucessivos da revista Psycological Perspectives. Tais ensaios serão atualizações da sua apresentação sobre “ressonância mórfica e o inconsciente coletivo”, ocorrida em maio de 1986 no Instituto de Relações Humanas, em Sta. Bárbara, Califórnia.



Neste ensaio eu estarei discutindo o conceito da memória coletiva como base para a compreensão do conceito de Jung do inconsciente coletivo. O inconsciente coletivo somente faz sentido no contexto com alguma noção de memória coletiva. Isto, portanto nos leva até um exame bastante amplo da natureza e do princípio da memória – não apenas em seres humanos e nem apenas no reino animal; nem mesmo apenas no setor da vida – mas no universo como um todo. Tal perspectiva é parte de uma mudança muito profunda de paradigma que está ocorrendo na ciência: a mudança de uma visão mundo mecanicista para uma visão evolutiva e holística.

A visão cartesiana mecanicista é de muitas maneiras, ainda o atual paradigma predominante, especialmente na biologia e na medicina. Noventa por cento dos biólogos se orgulhariam de declarar que são biólogos mecanicistas. A despeito de a Física ter se movido para além da visão mecanicista, muito do nosso pensar a respeito da realidade física ainda é moldado por ela – mesmo naqueles de nós que gostariam de acreditar tiramo-nos movido para além dessa configuração de pensamento. Portanto eu examinarei brevemente algumas das suposições fundamentais da visão de mundo mecanicista a fim de demonstrar como esta ainda se encontra profundamente enraizada no modo de pensar da maioria de nós.

AS RAÍZES DO MECANICISMO NO MISTICISMO NEOPLATÔNICO


È interessante notar que as raízes da visão mecanicistas de mundo do século XVII possam ser encontradas na religião mística antiga. De fato, a visão mecanicista foi (era) uma síntese de duas tradições de pensamento, ambas as quais estavam baseadas no ‘insight’ místico de que a realidade é permanente e imutável. Uma destas tradições provém de Pitágoras e de Platão, que eram ambos fascinados pelas verdades eternas da Matemática. No século XVII isto evoluiu para uma visão de que a natureza era governada por idéias permanentes, proporções, princípios, ou leis que existiam dentro da mente de Deus. Esta visão de mundo tornou-se dominante e, através de filósofos e cientistas tais como Copérnico, Kepler, Descartes, Galileu e Newton, foi incorporada aos fundamentos da física moderna.


Basicamente eles expressavam a idéia de que os números, proporções, equações e princípios matemáticos são mais reais do que o mundo físico que nós vivenciamos. Mesmo hoje muitos matemáticos se inclinam em direção a este tipo de misticismo pitagórico ou platônico. Eles pensam que o mundo físico é como um resultado de princípios matemáticos, como um reflexo das eternas leis numéricas matemáticas. Esta visão é estranha para o modo de pensar da maioria de nós, para os quais o mundo físico é o mundo “real” e as equações matemáticas são consideradas “feitas pelo homem” e possivelmente descrições imprecisas deste mundo “real”. Apesar disto esta visão mística evoluiu para o ponto de vista científico predominante atual de que a natureza é governada por leis eternas, imutáveis, permanentes onipresentes. As leis da natureza estão em todos os lugares e sempre presentes.


AS RAÍZES DO MATERIALISMO NO ATOMISMO


A segunda visão da imutabilidade que emergiu no século XVII nasceu da tradição atomística do materialismo, que se dedicou a um assunto que já estava profundamente enraizado no pensamento grego: especificamente o conceito de uma realidade imutável. Parmênides, um filósofo pré-socrático, tinha a idéia de que somente o ser é (only being is); não ser não é (not being is not). Se algo é, este não pode mudar porque, a fim de mudar, teria que combinar ser e não ser (existir e não existir), o que era impossível. Portanto ele concluiu que a realidade é uma esfera imutável e homogênea. Infelizmente para Parmênides, o mundo que nós vivenciamos não é homogêneo, imutável ou esférico. A fim de preservar a sua teoria, ele afirmou que o mundo que nós vivenciamos é uma ilusão. Esta não era uma solução muito satisfatória e os pensadores da época tentaram encontrar um modo de resolver este dilema.


A solução dos atomistas era a de reivindicar que a realidade consiste de um grande número de esferas (ou partículas) homogêneas e imutáveis: os átomos. Ao invés de uma grande esfera imutável, existe grande número de esferas imutáveis se movendo no vácuo. Os aspectos mutáveis do mundo poderiam então ser explicados em termos dos movimentos, das permutas e das combinações dos átomos. Este é o “insight” original do materialismo: que a realidade consistia de matéria atômica eterna e do movimento da matéria.


A combinação desta tradição materialista com a tradição platônica finalmente fez nascer à filosofia mecanicista que emergiu no século XXVII e que produziu um dualismo cósmico que tem estado conosco desde então. De um lado temos átomos eternos de matéria inerte e do outro lado temos leis imutáveis, não materiais, que se parecem mais com idéias do que com coisas físicas e materiais. Nesta espécie de dualismo ambos os lados são imutáveis – uma crença que não sugere de pronto a idéia de um universo evolutivo. De fato, os físicos têm estado em oposição a aceitar a idéia de evolução precisamente porque ela se encaixa de maneira pobre com a noção da matéria eterna e das leis imutáveis. Na física moderna a matéria tem sido vista como uma forma de energia; a energia eterna substituiu a matéria eterna, mas, além disso, pouco tem mudado.


A EMERGÊNCIA DO PARADIGMA EVOLUTIVO


No entanto, o paradigma evolutivo tem se firmado nos dois últimos séculos. No século XVIII, desenvolvimentos sociais, artísticos e científicos foram visto em geral como um processo evolutivo e progressivo. A revolução industrial tornou esse ponto de vista uma realidade econômica em parte da Europa e América. No início de século XIX, havia um número de filosofias evolutivas e, por volta de 1840, a teoria evolutiva social do marxismo tinha sido publicada. Neste contexto de teoria evolutiva social e cultural, Darwin apresentou a sua teoria da evolução biológica, que estendia a visão evolutiva à vida como um todo. Mesmo assim esta visão não atingia todo o universo: Darwin e os neodarwinistas ironicamente tentaram encaixar a evolução da vida na terra em um universo estático, e até pior, um universo que na verdade se pensava estar “se acabando” termodinamicamente, em direção à “morte pelo calor”.


Tudo mudou em 1966 quando a física finalmente aceitou uma cosmologia evolutiva na qual o universo não seria mais eterno. Ao invés disso, o universo se originava a partir de um “Big Bang” há cerca de 15 bilhões de anos atrás e havia evoluído desde então. Assim nós temos agora uma física evolutiva. Mas devemos nos lembrar que esta tem apenas cerca de 20 anos de idade e que as implicações e conseqüências da descoberta do big bang ainda não estão completamente entendidas.


A física está apenas começando a adaptar-se a esta nova visão, a qual, como temos visto, desafia a mais fundamental suposição da física desde a era de Pitágoras: a idéia das leis eternas. Na medida em que nós temos um universo que evolui, somos confrontados com a questão: e a respeito das leis eternas da natureza? A onde estavam as leis da natureza antes do big bang? Se as leis da natureza existiam antes do big bang, então fica claro que estas são de caráter não-físico; de fato, são metafísicas. Isto nos empurra para fora da suposição metafísica que se encontra sob a idéia das leis eternas, por conseqüência.


LEIS DA NATUREZA, OU APENAS HÁBITOS?


Existe, no entanto uma alternativa. A alternativa e a de que o universo se parece mais com um organismo do que com uma máquina. O big bang chama-nos de volta às estórias místicas sobre “chocar o ovo cósmico”: ele cresce, e medida que cresce se submete a uma diferenciação interna que se parece mais com um embrião cósmico gigante do que com a enorme máquina eterna da teoria mecanicista. Com esta alternativa orgânica, pode fazer sentido pensar a respeito das leis da natureza mais como hábitos; talvez as leis da natureza sejam hábitos do universo, e talvez o universo tenha uma memória embutida.


Há cerca de cem anos, o filósofo americano C. S. Pierce disse que se tomássemos seriamente a evolução, se pensássemos que o universo todo se encontra em evolução, então teríamos de pensar nas leis da natureza com algo ligado aos hábitos. Esta idéia era de fato bastante comum especialmente na América; ela foi adotada por William James e outros filósofos americanos e foi amplamente discutida no final do século XIX. Na Alemanha, Nietzsche chegou a sugerir que as leis da natureza se submetiam à seleção natural: talvez tenham existido muitas leis da natureza no início, mas somente as bem sucedidas sobreviveram; portanto, o universo que nós vemos tem leis que evoluíram através da seleção natural.


Os biólogos também se deslocaram em direção a uma interpretação dos fenômenos em termos de hábitos. O mais interessante destes teóricos foi o escritor inglês Samuel Butler, cujos livros mais importantes sobre este tema foram “Vida e Hábito” (1878) e “Memória Inconsciente” (1881). Butler afirmava que o todo da vida envolvia uma memória inconsciente inerente; os hábitos, os instintos dos animais, o modo pelo qual os embriões se desenvolvem, tudo refletia um princípio básico de uma memória inerente de dentro da vida. Ele chegou a propor que deveria haver uma memória inerente aos átomos, moléculas e cristais. Assim houve este período de tempo no final do século XIX quando a biologia foi vista em termos evolutivos. É somente a partir de 1920 que o pensar mecanicista passou a ter um domínio sobre o pensamento biológico.


COMO SURGE A FORMA?


A hipótese da causação formativa, que é a base do meu trabalho, parte do problema da forma biológica. Dentro da biologia tem havido uma prolongada discussão a respeito da compreensão de como os embriões e organismos se desenvolvem. Como é que as plantas crescem a partir das sementes? Como é que os embriões se desenvolvem a partir de ovos fertilizados? Este é um problema para os biólogos; não é bem um problema para embriões e árvores, que apenas o fazem! No entanto os biólogos têm dificuldade de encontrar uma explanação causal para a forma. Na física, de certo modo a causa se iguala ao efeito. A quantidade de energia, matéria, e ‘momentum’ antes de uma dada mudança se igualam à quantia encontrada depois da mudança. A causa é contida no efeito e o efeito na causa. No entanto quando consideramos o crescimento de um carvalho a partir de uma ‘bolota’, parece não existir tal equivalência entre causa e efeito.


No século XVII a teoria mecanicista principal da embriologia era simplesmente que o carvalho estava contido na ‘bolota’: dentro de cada ‘bolota’ existia um carvalho em miniatura que inflava à medida que a árvore crescia. Esta teoria foi amplamente aceita, e foi a mais consistente com a abordagem mecanicista, como era compreendida naquela época. No entanto, como indicaram os críticos, se o carvalho é inflado e aquele carvalho por si mesmo produz ‘bolotas’, a árvore inflável deve conter ‘bolotas’ infláveis, que contêm carvalhos infláveis, ad infinito.


Se, por outro lado, mais forma vier de menos forma (cujo nome técnico é epigênese), então de onde é que vem mais forma?


Como aparecem as estruturas que não estavam ali antes? Nem platônicos nem aristotelianos tinham qualquer problema com esta questão. Os platônicos diziam que a forma vinha do arquétipo platônico: se existe um carvalho, então existe uma forma arquetípica de uma árvore de carvalho, e todos os carvalhos reais são simplesmente reflexos deste arquétipo. Uma vez que este arquétipo está além do espaço e do tempo, não existe necessidade de tê-lo acomodado sob a forma física de uma ‘bolota’. Os aristolelianos diziam que cada espécie tem a seu próprio tipo de alma, e a alma é a forma do corpo. O corpo está na alma, e não a alma no corpo. A alma é a forma do corpo e se encontra em volta do corpo e contém a meta do desenvolvimento (o que formalmente é chamado de intelequia). A alma de um carvalho contém o carvalho eventual.


O DNA É UM PROGRAMA GENÉTICO?


No entanto, uma visão mecanicista do mundo nega o animismo em todas as suas formas; ela nega a existência da alma e de qualquer princípio organizador não-material. Portanto, os mecanicistas têm de possuir algum tipo de pré-formação. No final do século XIX, a teoria do biólogo alemão August Weismann sobre o plasma germe fez reviver a idéia da pré-formação; a teoria de Weismann colocou “determinantes”, os quais supostamente faziam crescer o organismo, dentro do embrião. Esta idéia é a antecessora da idéia atual da programação genética, a qual constitui uma outra ressurgência do pré-formação de uma maneira moderna.


Como veremos, esse modelo não funciona muito bem. Presume-se que o programa genético seja idêntico com o DNA, a química genética. A informação genética está codificada no DNA e este código forma o programa genético. Mas tal salto exige que sejam projetadas no DNA propriedades que este não possui de fato. Nós sabemos o que o DNA faz: ele codifica para criar proteínas; ele codifica a seqüência de aminoácidos que forma proteínas. No entanto, existe uma grande diferença entre a codificação para a estrutura de uma proteína – um constituinte químico do organismo – e a programação do desenvolvimento de um organismo total esta é a diferença entre fazer tijolos e construir uma casa a partir dos tijolos. Os tijolos são necessários para construir a casa. Se você tem tijolos defeituosos, a casa será defeituosa. Mas o planejamento da casa não está contido nos tijolos, ou nos fios, ou nas pilastras, ou no cimento.


Por analogia, o DNA somente codifica para materiais dos quais o corpo é construído: as enzimas, as proteínas estruturais e assim por diante. Não existe evidência que ele também codifique para o planejamento, a forma, a morfologia do corpo. A fim de ver isto mais claramente, pense nos seus braços e pernas. A forma dos braços e das pernas é diferente; é óbvio que eles têm um formato diferente. Mesmo assim a química dos braços e das pernas é idêntica. Os músculos são os mesmos, as células nervosas são as mesmas, as células da pele são as mesmas e o DNA é o mesmo em todas as células dos braços e das pernas. De fato, o DNA é o mesmo em todas as células do corpo. O DNA sozinho não pode explicar a diferença na forma; algo mais é necessário para explicar a forma.


Na biologia mecanicista atual, se assume que isto é geralmente dependente dos chamados “padrões complexos de interação físico-químicos ainda não inteiramente compreendidos”. Assim a teoria mecanicista atual não é uma explicação, mas sim uma mera promessa de explicação. Isto é o que Sir Karl Popper tem chamado de “mecanicismo promissor”; Isto envolve listar notas promissoras contra explicações futuras que ainda não existem. Deste modo, não se trata de um argumento objetivo; é meramente uma afirmação baseada em fé.


O QUE SÃO CAMPOS MÓRFICOS?


A questão do desenvolvimento biológico, da morfogênese, está de fato bastante aberta e é matéria de muito debate dentro da biologia. Uma alternativa para a abordagem mecanicista/reducionista, a qual está em voga desde 1920, é a idéia dos campos morfogenéticos (modeladores da forma). Neste modelo, organismo que estão crescendo são moldados por campos que estão tanto dentro como em volta deles, campos que contém a forma do organismo. Isto está mais próximo da tradição aristotélica do que de qualquer uma das outras abordagens tradicionais. À medida que a árvore do carvalho se desenvolve, a ‘bolota’ está associada com um campo do carvalho, uma estrutura organizadora invisível que organiza o desenvolvimento do carvalho; se parece com um molde do carvalho, dentro do qual o organismo que está se desenvolvendo cresce.


Um fato que levou ao desenvolvimento desta teoria é a notável habilidade que os organismos têm para reparar danos. Se você cortar um carvalho em pedacinhos, cada pequeno pedaço, tratado de maneira apropriada, poderá crescer até se tornar uma nova árvore. Portanto a partir de um pequeno fragmento, você pode obter um inteiro. Máquinas não fazem assim; elas não têm este poder de permanecer inteiras se você remover partes delas. Esquarteje um computador e tudo o que você terá é um computador quebrado. Ele não se regenera em uma porção de computadorezinhos. Mas se você picar uma planária em pequenos pedaços, cada pedaço poderá crescer como nova planária. Uma outra analogia é a do magneto (imã). Se você cortar um imã em pedacinhos você com certeza terá uma porção de pequenos imãs, cada um com um campo magnético completo. Esta é uma propriedade holística que os campos têm que os sistemas mecânicos não têm a menos que estes estejam associados com campos. Um outro exemplo é o holograma, no qual qualquer parte contém o todo. Um holograma é baseado em padrões de interferência dentro do campo eletromagnético. Os campos assim têm uma propriedade holística a qual foi muito atraente para os biólogos que desenvolveram este conceito dos campos morfogenéticos.


Cada espécie tem os seus próprios campos, e dentro de cada organismo existem campos dentro de campos. Dentro de cada um de nós está o campo do corpo como um todo; campos para os braços e pernas e campos para rins e fígado; dentro estão campos para os diferentes tecidos dentro destes órgãos, e então campos para as células, e campos para as estruturas subcelulares, e campos para as moléculas e assim por diante. Existe uma série inteira de campos dentro de campos. A essência da hipótese que eu estou propondo é a que estes campos, os quais já estão amplamente aceitos dentro da biologia, têm uma espécie de memória embutida que deriva de formas prévias de uma espécie similar. O campo do fígado é moldado pelas formas de fígados anteriores e o campo do carvalho pelas formas e organização de árvores de carvalho anteriores. Através dos campos, por um processo chamado de ressonância mórfica, a influência de semelhante sobre o semelhante, existe uma conexão entre campos similares. O que significa que a estrutura do campo tem uma memória cumulativa, baseada naquilo que aconteceu às espécies no passado. Essa idéia se aplica não somente aos organismos vivos, mas também a moléculas de proteína, cristais, e mesmo átomos. No reino dos cristais, por exemplo, a teoria diria que a forma que um cristal toma depende do seu campo mórfico característico. Campo mórfico é um termo mais abrangente o qual inclui os campos tanto de forma como de comportamento; daqui por diante, eu deverei usar o termo campo mórfico ao invés de morfogenéticos.


QUÍMICOS BARBUDOS MIGRANTES


Se você fabrica um novo componente e o cristaliza, não haverá um campo mórfico para ele de uma primeira vez. Portanto, pode ser muito difícil cristalizar; você tem que esperar para que um campo mórfico emergia. Na segunda vez, entretanto, mesmo que você faça isto em algum outro lugar no mundo, haverá uma influência da primeira cristalização, e a cristalização deverá ser um pouco mais fácil. Na terceira vez haverá uma influência da primeira e da segunda, e assim por diante. Haverá uma influência cumulativa a partir de cristais prévios, portanto deverá se tornar cada vez mais fácil à cristalização conforme você cristaliza mais freqüentemente. E de fato, é isto precisamente o que ocorre. Químicos (que trabalham com materiais) sintéticos descobrem que novos componentes são geralmente muito difíceis de cristalizar. À medida que o tempo passa, tais componentes geralmente se tornam mais fáceis de cristalizar em todas as partes do mundo. A explicação convencional é que isto ocorre devido a fragmentos de cristais prévios que são carregados de laboratório em laboratório nas barbas dos químicos migrantes. Quando nenhum químico migrante esteve presente, supõe-se que os fragmentos se dispersaram pela atmosfera como se fossem partículas microscópicas de poeira.


Talvez os químicos migrantes realmente carreguem fragmentos nas suas barbas, e talvez partículas de poeira realmente sejam sopradas pela atmosfera. Entretanto, se a taxa de cristalização for mensurada sob condições rigorosamente controladas em vasos selados em diferentes partes do mundo, ainda deverá ser observado uma taxa acelerada de cristalização. Este experimento ainda não foi feito. Mas uma experiência relacionada a isto envolvendo taxas de reações químicas de novos processos sintéticos está sendo considerada no momento por uma empresa química importante na Grã-Bretanha porque, se tais coisas acontecem, devem ter implicações bastante importantes para a indústria química.


UMA NOVA CIÊNCIA DA VIDA


Existe um bom número de experimentos que podem ser feitos na esfera da forma biológica e do desenvolvimento da forma. Correspondentemente, os mesmos princípios se aplicam ao comportamento, formas de comportamento e padrões de comportamento. Considerem a hipótese de que se você treinar ratos para que aprendam um novo truque em Santa Bárbara, daí ratos de todo o mundo deverão estar aptos para aprender a fazer o mesmo truque mais rapidamente, somente porque os ratos de Santa Bárbara o aprenderam. Este novo padrão de aprendizado estará, como esteve, na memória coletiva dos ratos – no campo mórfico dos ratos, ao quais outros ratos podem sintonizar, somente porque eles são ratos e somente porque estão em circunstâncias semelhantes, por ressonância mórfica. Isto pode parecer um tanto improvável, mais este tipo de coisa pode tanto acontecer como não.


Dentre o vasto número de documentos nos arquivos sobre experimentos na psicologia dos ratos, existe um número de exemplos de experiências nas quais pessoas de fato monitorizaram taxas de aprendizado em função do tempo e descobriram aumentos misteriosos. No meu livro, Uma Nova Ciência da Vida, eu descrevo uma destas séries de experiências que se estenderam por um período de cinqüenta anos. Iniciada em Harvard e conduzida na Escócia e na Austrália, a experiência demonstrou que ratos aumentaram a sua taxa de aprendizado em mais de dez vezes. Este foi um efeito em massa – e não somente um resultado estatisticamente significante periférico. Esta taxa melhorada de aprendizado ocorreu em situações de aprendizado idênticas ocorridas nestes três locais separados e em todos os ratos da cepa, não somente nos ratos descendentes de genitores treinados.


Existem outros exemplos de distribuição espontânea de novos hábitos em animais e em pássaros que proporcionam no mínimo evidência circunstancial para a teoria da ressonância mórfica. A mais bem documentada de todas é o comportamento de uma espécie de azulão, um pássaro que é comum em toda a Grã-Bretanha. O leite fresco ainda é fornecido à porta das residências toda manhã no país. Até cerca de 1950 as tampas das garrafas de leite eram feitas de papelão. Em 1921, em South Ampton, um fenômeno estranho foi observado. De manhã, quando as pessoas saíam para pegar suas garrafas de leite, elas encontravam papeizinhos picotados em torno fundo da garrafa, e a nata de cima da garrafa havia desaparecido. Uma observação mais detalhada revelou que isto estava sendo feito pelos azulões, que pousavam no topo da garrafa, retiravam o papelão com seus bicos e então bebiam a nata. Muitos casos trágicos foram encontrados, nos quais muitos azulões foram descobertos com suas cabeças afogadas no leite! Este incidente causou um interesse considerável; que tal evento acontecesse em outros lugares do país, 50 algumas vezes 100 milhas de distância. Sempre que o fenômeno do azulão aparecia, começava a se espalhar localmente, supostamente por imitação. No entanto, os azulões são criaturas muito caseiras e normalmente não viajam mais do que quatro ou cinco milhas. Portanto, a disseminação do comportamento por distâncias maiores poderia somente ser contabilizada em termos de uma descoberta independente do hábito. O hábito do azulão foi mapeado por toda a Grã-Bretanha até 1947, época em que se tornou mais ou menos universalizado. As pessoas que fizeram o estudo chegaram a conclusão de que o hábito deveria ter sido “inventado” independentemente em pelo menos umas cinqüenta vezes. Mais do que isso, a taxa de distribuição do hábito se acelerou à medida que o tempo passava. Em outras partes da Europa a onde as garrafas de leite são distribuídas na soleira da porta, tais como na Escandinávia e na Holanda, o hábito também se construiu durante a década de trinta e se espalhou de modo semelhante. Aqui está um exemplo de um padrão de comportamento que foi espalhado de uma maneira que parecia se acelerar com o tempo, e que poderia proporcionar um exemplo de ressonância mórfica.


Mas existe uma evidência ainda mais forte para a ressonância mórfica. Devido à ocupação Alemã na Holanda, a distribuição de leite foi interrompida nos anos de 1939-40. A distribuição do leite não foi retomada até 1948. Uma vez que azulões geralmente vivem apenas de 2 a 3 anos, provavelmente não havia azulões vivos em 1948 que tivessem estados vivos na última vez que o leite fora distribuído. Mesmo assim quando a distribuição de leite foi reiniciada em 1948, a abertura das garrafas de leite pelos azulões se espalhou rapidamente em localidades bastante distantes na Holanda, e de modo extremamente rápido até que, em um ano ou dois, o hábito era uma vez mais universal. O comportamento se espalhou muito mais rapidamente e sobreveio independentemente muito mais freqüentemente da segunda vez do que da primeira. Este exemplo demonstra a distribuição evolutiva de um novo hábito que provavelmente não é genético, mas sim dependente de uma espécie de memória coletiva que se deve à ressonância mórfica.


O que eu estou sugerindo é que hereditariedade não depende somente do DNA, que habilita os organismos a construir os materiais de construção químicos corretos – as proteínas – mas também da ressonância mórfica. A hereditariedade tem, portanto dois aspectos: um é a hereditariedade genética, que é responsável pela herança de proteínas através do controle do DNA na síntese protéica; a segunda é uma forma de hereditariedade baseada em campos mórficos e em ressonância mórfica, que é não genética e que é herdada dos membros anteriores (passados) das espécies. Esta última forma de hereditariedade lida com a organização da forma e do comportamento.


A ALEGORIA DO APARELHO DE TELEVISÃO


As diferenças e conexões entre estas duas formas de hereditariedade tornam-se mais fácil de compreender se considerarmos uma analogia com a televisão. Pense sobre as figuras na tela como a forma na qual nós estamos interessados. Se você não soubesse como a forma surgiu, a explicação mais óbvia seria que haveria pequenas pessoas dentro do aparelho cujas sombras você estaria vendo na tela. Crianças pensam dessa maneira algumas vezes. Se você, no entanto afasta o aparelho e olha dentro, você descobre que não existem pessoas pequenas. Aí você poderia se tornar mais sutil e especular que as pequenas pessoas são microscópicas e estão na verdade por dentro dos cabos do aparelho de TV. Mas se você der uma olhada nos fios através de um microscópio, você também não encontrará nenhum pequenino.


Você poderia se tornar ainda mais sutil e propor que as pequenas pessoas na tela na verdade apareceram através de “interações complexas entre as partes do aparelho as quais ainda não estão inteiramente compreendidas”. Você poderia pensar que esta teoria seria comprovada se você cortasse alguns transistores do aparelho. As pessoas desapareceriam. Se você colocasse os transistores de volta, elas reapareceriam. Isto poderia prover evidências convincentes que elas surgiram a partir do interior do aparelho inteiramente sobre uma base de interação interna.


Suponha que alguém tenha sugerido que as figuras dos pequeninos venham de fora do aparelho, e que o aparelho captura as imagens como um resultado de vibrações invisíveis às quais o aparelho está sintonizado. Isto provavelmente soaria como uma explicação bastante oculta e mística. Você poderia negar que qualquer coisa esteja vindo para o aparelho. Você poderia até mesmo “prova-lo” ao pesar o aparelho ligado e desligado; pesaria o mesmo. Portanto, você poderia concluir que nada está entrando no aparelho.


Eu penso que esta é a posição da biologia moderna, tentando explicar cada coisa em termos do que ocorre dentro. Quanto mais explicações para a forma são procuradas dentro, mais enganosas se provam as explicações, e mais elas são atribuídas a ainda maiores interações sutis e complexas, as quais sempre desviam a investigação. Como eu estou sugerindo, as formas e padrões de comportamento estão na verdade sendo sintonizadas através de conexões invisíveis que surgem de fora do organismo. O desenvolvimento da forma é o resultado tanto da organização interna do organismo quanto da interação dos campos mórficos aos quais ele está sintonizado.


Mutações genéticas podem afetar este desenvolvimento. Mais uma vez pense no aparelho de TV. Se nós provocarmos uma mutação em um transistor ou um condensador dentro do aparelho, você pode obter imagens ou som distorcidos. Mais isto não prova que as imagens e o som são programados por estes componentes. E nem isto prova que a forma e comportamento são programados pelos genes, se acharmos que existem alterações na forma e no comportamento como um resultado de mutação genética.


Existe uma outra espécie de mutação que é particularmente interessante. Imagine uma mutação no circuito de sintonização do seu aparelho, de modo que ela altera a freqüência ressonante do circuito de sintonização. Sintonizar a sua TV depende de um fenômeno ressonante; o sintonizador ressona à mesma freqüência da freqüência do sinal transmitido pelas diferentes estações. Assim, os mostradores da sintonização são medidos em hertz, que é uma medida de freqüência. Imagine uma mutação no sistema de sintonização de maneira que você sintoniza um canal e um canal diferente aparece. Você pode rastrear isto de volta a um único condensador ou resistor que havia sofrido uma mutação. Mas não seria válido concluir que os novos programas que você está assistindo, as diferentes pessoas, os diferentes filmes e propagandas, são programados dentro do componente que foi mudado. E nem isto prova que a forma e o comportamento são programados no DNA quando mutações genéticas levam a mudanças na forma e no comportamento. A conclusão usual é que se você pode mostrar que alguma coisa se altera como um resultado de uma mutação, então aquilo deve estar programado, ou controlado, ou determinado pelo gene. Eu espero que esta analogia com a TV torne claro que esta não é a única conclusão. Poderia ser que ela esteja apenas afetando o sistema de sintonização.


UMA NOVA TEORIA DA EVOLUÇÃO


Uma grande quantidade de trabalhos está sendo efetuada pela pesquisa biológica contemporânea a respeito de tais mutações “sintônicas” (formalmente chamadas de mutações homeóticas). O animal mais utilizado nas investigações é a drosófila, a mosca da fruta. Uma extensão inteira destas mutações, que produzem diversos tipos de monstruosidades tem sido descobertas. Uma espécie, denominada antennapedia, se destaca por ter suas antenas transformadas em pernas. Estas infelizes moscas, que contém apenas um único gene alterado, produzem pernas que crescem a partir de suas cabeças, ao invés de antenas. Existe uma outra mutação que conduz o segundo par, dos três pares de pernas da drosófila, a ser transformados em antenas. Normalmente as moscas têm um par de asas e, no seguimento por detrás das asas, existem pequenos órgãos que oscilam chamados halteres. Uma outra mutação ainda, leva á transformação do seguimento que normalmente contém os halteres, para uma duplicação do primeiro seguimento, de maneira que tais moscas têm quatro asas ao invés de duas. Estas são chamadas de mutantes bitoráxicas.


Todas estas mutações são dependentes de genes únicos. Eu proponho que de alguma maneira estas mutações de genes únicos são mudanças na sintonia de uma parte do tecido embrionário, de modo que ele se sintoniza com um campo mórfico diferente do que aquele o qual normalmente o faz, e assim uma diferente combinação de estruturas surge, exatamente como quando sintonizamos em um canal de TV diferente.


Podemos observar a partir destas analogias, como tanto a genética como a ressonância mórfica estão envolvidas na hereditariedade. È claro, uma nova teoria de hereditariedade conduz a uma nova teoria da evolução. A teoria evolutiva de hoje está baseada na suposição de que virtualmente toda a hereditariedade é genética. A sociobiologia e o neodarwinismo em todas as suas diversas formas baseiam-se na seleção dos genes, freqüência dos genes e assim por diante. A teoria da ressonância mórfica conduz a uma visão muito mais ampla que permite que uma das maiores heresias da biologia uma vez mais seja levada a sério: a idéia da herança de características adquiridas. Comportamentos aprendidos por organismos, ou formas desenvolvidas por eles, pode ser herdada por outros mesmo que não sejam descendentes dos organismos originais – por ressonância mórfica.


UM NOVO CONCEITO DE MEMÓRIA


Quando consideramos a memória, esta hipótese conduz a uma abordagem muito diferente da abordagem tradicional. O conceito chave da ressonância mórfica é que coisas semelhantes influenciam coisas semelhantes através do espaço e do tempo. A quantidade de influência depende do grau de similitude. A maioria dos organismos é mais semelhante a si mesmos no passado do que o são em relação a qualquer outro organismo. Eu me pareço mais comigo mesmo há cinco minutos atrás do que eu me pareço com qualquer um de vocês; todos nós somos mais parecidos com nós mesmos no passado do que com qualquer outra pessoa. É a mesma coisa com qualquer outro organismo. Esta auto-ressonância com estados passados daquele mesmo organismo, no seio da forma, ajuda a estabilizar os campos morfogenéticos, a estabilizar a forma do organismo, mesmo que os constituintes químicos nas células estejam se transformando e mudando. Padrões habituais de comportamento também são sintonizáveis a partir do processo de auto-ressonância. Se eu começo a andar de bicicleta, por exemplo, o padrão de atividade do meu sistema nervoso e dos meus músculos, em resposta ao equilíbrio sobre a bicicleta, imediatamente me sintoniza por similaridade a todas as ocasiões anteriores nas quais eu andei de bicicleta. A experiência de andar de bicicleta é dada por ressonância mórfica cumulativa a todas aquelas ocasiões passadas. Não é uma memória verbal ou intelectual; é uma memória corporal do andar de bicicleta.


Isso também se aplicaria à memória de eventos reais: aquilo o que eu fiz ontem em Los Angeles ou no ano passado, na Inglaterra. Quando eu penso sobre estes eventos em particular, eu estou me sintonizando às ocasiões nas quais estes eventos ocorreram. Existe uma conexão causal direta através de um processo de sintonização. Se essa hipótese for correta, não é necessário admitir que memórias são armazenadas dentro do cérebro.


O MISTÉRIO DA MENTE


Todos nós fomos conduzidos à idéia de que as memórias estão armazenadas no cérebro; usamos a palavra cérebro de forma intercambiável com mente ou memória. Eu estou sugerindo que o cérebro se parece mais como um sistema de sintonização do que com um aparelho de armazenamento de memória. Um dos principais argumentos para a localização da memória no cérebro é o fato de que certos tipos de lesão cerebral podem levar a perda de memória. Se o cérebro é lesado em um acidente de carro e alguém perde a memória, a suposição óbvia é que o tecido da memória deva ter sido destruído. Mas não é necessariamente assim.


Considere novamente a analogia da TV. Se eu danificar o seu aparelho de TV de modo que você ficou incapacitado de receber determinados canais, ou se eu tornar o aparelho de TV afásico ao destruir a parte ligada à produção do som de modo que você ainda pudesse obter as imagens, mas não o som, isto não provaria que o som ou as imagens estaria armazenado dentro do aparelho de TV. Isso meramente mostraria que eu havia afetado o sistema de sintonização de maneira que você não poderia mais pegar o sinal correto. Nem a perda da memória devida a lesão cerebral prova que a memória se encontra armazenada dentro do cérebro. De fato, a maioria das perdas de memória é temporária: amnésia após uma concussão, por exemplo, é freqüentemente temporária. Esta recuperação da memória é muito difícil de explicar em termos das teorias convencionais: se as memórias foram destruídas por que o tecido de memória foi destruído, elas não deveriam voltar novamente; mesmo assim elas freqüentemente retornam.


Um outro argumento para a localização da memória dentro do cérebro é sugerido pelos experimentos sobre estimulação elétrica do cérebro feito por Wilder Penfield e colaboradores. Penfield estimulou os lobos temporais dos cérebros de pacientes epiléticos e descobriu que alguns destes estímulos podiam disparar respostas vívidas, as quais eram interpretadas pelos pacientes como memórias de coisas que eles haviam feito no passado. Penfield supôs que ele estava de fato estimulando memórias que estavam armazenadas no córtex. De volta a analogia da TV, se eu estimulasse o circuito de sintonização do seu aparelho de TV e ele pulasse para outro canal, isto não provaria que a informação estava armazenada dentro do circuito de sintonização. É interessante que, no seu último livro, “The Mystery of the Mind”, o próprio Penfield abandonou a idéia de que os experimentos provavam que a memória estava dentro do cérebro. Ele chegou à conclusão de que a memória não estava absolutamente armazenada dentro do córtex.


Tem havido muitas tentativas de localizar traços da memória dentro do cérebro, a mais conhecida delas foi a de Karl Lashley, o grande neuro-fisiologista americano. Ele treinou ratos para aprenderem truques, e então tirou pedaços dos cérebros dos ratos para determinar se eles ainda poderiam fazer os truques. Para seu espanto, ele descobriu que ele poderia remover até 50% do cérebro – qualquer 50% - e não haveria nenhum efeito na retenção do aprendizado. Quando ele removia todo o cérebro, os ratos não conseguiam fazer tais truques, portanto ele concluiu que o cérebro era de algum modo necessário para o desempenho da tarefa – o que dificilmente é uma conclusão surpreendente. O que era surpreendente era a quantidade de cérebro que ele podia remover sem afetar a memória.


Resultados semelhantes têm sido encontrados por outros investigadores, até mesmo com invertebrados como o polvo. Isso levou o investigador a especular que a memória estava em todos os lugares, mas também em nenhum lugar em particular. O próprio Lashley concluiu que memórias são armazenadas de uma forma distribuída por todo o cérebro, já que ele não pode encontrar os vestígios de memória que a teoria clássica exigia. O seu aluno, Karl Pribram, estendeu esta idéia com a teoria holográfica do armazenamento da memória: a memória é como uma imagem holográfica, armazenada como um padrão de interferência pelo cérebro.


O que Lashley e Pribram (pelo menos em uma parte dos seus escritos) parecem não ter considerado é a possibilidade de que memórias podem não estar de modo algum armazenadas dentro do cérebro. A idéia de que elas não estão armazenadas dentro cérebro é mais consistente com os dados disponíveis do que as teorias convencionais ou a teoria holográfica. Muitas dificuldades surgiram ao se tentar localizar o armazenamento da memória no cérebro, em parte porque o cérebro é muito mais dinâmico do que se pensava anteriormente. Se o cérebro fosse para servir como um armazém de memória, então o sistema de armazenamento teria que permanecer estável; e mais, é sabido hoje que as células nervosas são substituídas muito mais rapidamente do que se pensava anteriormente. Toda a química nas sinapses e estruturas nervosas e moléculas são trocadas e mudam o tempo todo. Com um cérebro muito dinâmico, é difícil visualizar como as memórias são armazenadas.


Também existe um problema lógico a respeito das teorias convencionais de armazenamento da memória, para o qual diversos filósofos apontaram. Todas as teorias convencionais supõem que as memórias são, de algum modo, codificadas e localizadas em um depósito de memória no cérebro. Quando elas são necessárias, são recuperadas por um sistema de reparação. Este é o chamado modelo de codificação, armazenamento e recuperação. No entanto, para que um sistema de recuperação recupere qualquer coisa, ele deve saber o que é que quer recuperar; um sistema de recuperação de memória tem que saber qual memória procurar. Ele, portanto deve estar apto a reconhecer a memória a qual está tentando recuperar. A fim de reconhecê-la, o próprio sistema de recuperação deve ter algum tipo de memória. Portanto o sistema de recuperação deve ter um subsistema de recuperação para recuperar as suas memórias do seu depósito. Isso leva a uma regressão infinita. Diversos filósofos defendem que esta é uma falha lógica fatal em qualquer teoria convencional sobre armazenamento de memória. No entanto, no geral, os teóricos da memória não estão muito interessados naquilo o que os filósofos dizem, assim eles não se incomodam de se contrapor a este argumento. Mas este me parece ser de fato um argumento bastante poderoso.


Ao considerar a teoria de ressonância mórfica da memória, poderíamos perguntar: se nós nos sintonizamos com as nossas próprias memórias, então porque não nos sintonizamos também com as de outras pessoas? Eu penso que nós nos sintonizamos, e que toda a base da abordagem que eu estou sugerindo é a que existe uma memória coletiva à qual nós todos estamos sintonizados e que forma uma base contra a qual a nossa própria experiência se desenvolve e contra a qual as nossas próprias memórias individuais se desenvolvem. Esse conceito é muito semelhante à noção do inconsciente coletivo.


Jung pensava sobre o inconsciente coletivo como uma memória coletiva, a memória coletiva da humanidade. Ele pensava que as pessoas estariam mais sintonizadas aos membros da sua própria família e raça e grupo social e cultural, mas que não obstantemente, haveria uma ressonância de base a partir de toda a humanidade: uma experiência agrupada ou de uma média de coisas básicas as quais todas as pessoas vivenciam (e.é., comportamento materno, e diversos padrões sociais e estruturas da experiência e do pensamento). Não seria tanto uma memória de pessoas em particular no passado, mas uma média das formas básicas das estruturas de memórias; estes são os arquétipos. A noção de Jung sobre o inconsciente coletivo é de um bom senso extremo no contexto da abordagem geral que eu estou adiantando. A teoria de ressonância mórfica levaria a uma reafirmação radical do conceito de Jung a respeito do inconsciente coletivo.

A teoria necessita de reafirmação porque o contexto atual mecanicista da biologia, medicina e psicologia convencional nega que possa existir tal coisa como o inconsciente coletivo; o conceito de uma memória coletiva de uma raça ou espécie tem sido excluído até mesmo como uma possibilidade teórica. Você não pode ter qualquer herança de características adquiridas, de acordo com a teoria convencional; você somente pode ter uma herança de mutações genéticas.

Sob as premissas da biologia convencional, não haveria nenhuma forma de que experiências e mitos de tribos africanas, por exemplo, terem qualquer influência sobre os sonhos de alguém na Suíça, de descendência não-africana, o que é o tipo de coisa que Jung pensava que realmente pode acontecer. Isto é bastante impossível do ponto de vista convencional, sendo por isso que a maioria dos biólogos da corrente principal da ciência não leve a idéia do inconsciente coletivo a sério. Ela é considerada uma idéia marginal, escamosa, que pode ter algum valor poético, como uma espécie de metáfora, mas não tem relevância para a ciência em si porque é um conceito completamente insustentável do ponto de vista da biologia normal.


A abordagem que eu estou passando adiante é bastante semelhante à idéia de Jung do inconsciente coletivo. A principal diferença é que a idéia de Jung foi aplicada primariamente à experiência humana e à memória coletiva humana. O que eu estou sugerindo é que um princípio semelhante opera por todo o universo, não apenas em seres humanos. Se a espécie de mudança do paradigma radical de que eu estou falando prosseguir dentro da biologia – se a hipótese da ressonância mórfica estiver até mesmo aproximadamente correta – então a idéia de Jung sobre o inconsciente coletivo tornar-se-ia uma idéia central para ser seguida: campos morfogênicos e o conceito do inconsciente coletivo mudariam completamente o contexto da psicologia moderna.





Source: http://mundocogumelo.wordpress.com

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